Design de uma Rapina Noturna:
Ilustração Científica e Anatomia de uma Coruja-das-torres (Tyto alba)
por Diogo Guerra
http://www.diogoguerra.com/
A Ilustração Científica é uma área fascinante, onde ciência e arte se entrecruzam, para produzir imagens realistas em inúmeros tópicos. Mas onde começa o processo criativo de uma ilustração deste tipo? A resposta a esta pergunta inclui duas palavras-chave – observação e conteúdo. Imaginemos uma rapina noturna que queremos desenhar – uma coruja-das-torres, por exemplo. Nenhuma referência é melhor do que o objeto real. Por isso, peguemos num bloco e num bom lápis e tentemos encontrar uma lá fora.
Tivemos sorte. Não demorámos muito a dar com a nossa coruja (chamemos-lhe Tyto). Mais do que isso, a luz é ironicamente a ideal e o Tyto não se vai mexer muito enquanto o desenhamos.
Uma ilustração deverá sempre partir do geral para o particular e em camadas de crescente detalhe. Comecemos por observar o Tyto e identificar as formas mais simples que moldam o corpo de uma coruja (ver Fig. 1a). De seguida, identificamos as diferentes partes do corpo – cabeça, asas, tarsos, etc. (Fig. 1b).

O poder da observação é muito valioso, mas apenas nos revela o exterior. É neste ponto que podemos recorrer uma ferramenta muito útil – a anatomia interna – para entender o que se esconde por dentro do corpo do Tyto. Com base na anatomia externa, podemos desenhar as linhas simples do esqueleto de uma ave (Fig. 1c). Este aspeto é válido para qualquer tipo de animal e uma óptima ajuda para entender as formas e os movimentos de várias partes do corpo, bem como a maneira como estas se relacionam entre si.
A parte mais difícil já está. A partir de agora, precisamos apenas de paciência para os detalhes, e de sorte, para que o Tyto não saia entretanto do lugar (Fig. 1d). É importante percebermos o volume associado à plumagem e nunca nos deixarmos focar demasiado numa porção do desenho, negligenciando as restantes.

A anatomia interna das rapinas noturnas daria conversa para um livro inteiro. Para entendermos um pouco mais sobre este tema, foquemo-nos apenas em duas interessantes porções do esqueleto – os membros posteriores e as asas.
Na Figura 2 podemos observar uma versão mais detalhada da Figura 1, realçando o esqueleto do membro posterior. Apesar de externamente não o parecer, este membro prolonga-se para lá da plumagem da barriga.
Na Figura 3, temos os ossos da asa, que se encontram todos na sua porção anterior e onde se inserem as penas. Os ossos da extremidade da asa estão fundidos ao contrário dos mamíferos.

Neste pequeno exemplo apercebemo-nos de que a ilustração científica é muito mais do que apenas ciência ou apenas arte. Há um conhecimento de base imprescindível para realizar este tipo de trabalho, que despende bastante tempo de estudo. No entanto, em áreas como a Zoologia, onde tão pouco se sabe sobre tantas espécies, a capacidade de usar conhecimento para produzir imagens que são, por si só, fontes de mais conhecimento, torna todo o processo muito gratificante