Comportamento: Ataques de Rapinas Nocturnas a Seres Humanos

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«Owl attacks prompt Dutch town to arm itself with umbrellas» Disponível em: http://www.theguardian.com/environment/2015/feb/25/european-eagle-owl-attacks-dutch-town-purmerend  [consultado em: 2015.02.26]
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Notícias deste género têm sido exaustivamente difundidas na Internet. Recebemos no STRI mensagens de leitores que revelam dúvidas e alguma preocupação sobre acontecimentos relacionados.
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Contactado pelo STRI, o investigador Rui Lourenço aceitou generosamente fazer um pequeno comentário sobre este tipo de situação.
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– Afinal, devem ou não as pessoas recear estes ataques?

O bufo-real é uma ave de grande dimensão e, por isso, potencialmente capaz de infligir ferimentos dolorosos nas pessoas. Apesar disso, os ataques de bufos-reais a pessoas, na Europa, são muito pontuais, ainda que frequentemente razão de notícia. A maioria dos casos conhecidos de ataques a pessoas foram levados a cabo por bufos-reais criados em cativeiro, muitos deles treinados para actividades de falcoaria. O comportamento destas aves relativamente às pessoas não é o mesmo dos bufos-reais criados na natureza. Os bufos-reais evitam a proximidade humana, estabelecendo os seus territórios quase sempre em áreas remotas e inacessíveis. Quando estes territórios são visitados por pessoas, mesmo que durante o período de reprodução, o comportamento do bufo-real é manter-se escondido ou fugir.
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Anualmente, por toda a Europa, vários investigadores visitam ninhos de bufo-real, para fins científicos, não sendo conhecidos relatos de ataques por parte destas aves a estes “intrusos” humanos. Os bufos-reais foram perseguidos, durante milénios, pelo Homem, tendo adquirido comportamentos esquivos e de fuga para evitarem ser abatidos. Na Europa, apenas a coruja dos Urales, que não ocorre em Portugal, é conhecida por mostrar um comportamento bastante agressivo face a pessoas que se aproximam do seu ninho, durante a reprodução.

Os bufos-reais criados por humanos, quer legalmente (falcoaria), quer ilegalmente (pilhagem de juvenis em ninhos), geralmente não reconhecem estes como potenciais predadores, mas, pelo contrário, muitas vezes consideram os humanos membros da mesma espécie, com os quais estão habituados a interagir. Em resultado disto, os ataques de bufos-reais constituem, muitas vezes, uma resposta territorial face ao que estes indivíduos reconhecem como competidores, ou seja, às pessoas.

Em Portugal não são conhecidos registos de ataques de bufos-reais a pessoas. A maioria dos bufos-reais ocorre longe de povoações e, mesmo nos casos de uma convivência mais próxima, entre humanos e estas aves, esta é pacífica. O número de bufos-reais em cativeiro (legalmente para fins de falcoaria) é reduzido, pelo que a fuga de indivíduos, a ocorrer, será muito pontual. Por estas razões, não é de recear que, em Portugal, ocorram casos de ataques de bufos-reais a pessoas. Vale a pena ainda referir que as restantes espécies de aves de rapina nocturnas, que existem em Portugal, também não apresentam um comportamento agressivo relativamente às pessoas. (2015.02.27)

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Rui do Nascimento Fazenda Lourenço

Doutorado em Biologia pela Universidade de Évora, é actualmente investigador de pós-doutoramento no Laboratório de Ornitologia do ICAAM, Universidade de Évora. Tem desenvolvido trabalho sobre a ecologia de aves de rapina, sendo o bufo-real uma das espécies que mais tem estudado.