Os centros de recuperação de fauna selvagem são normalmente contactados devido a situações em que há animais feridos ou debilitados e que necessitam de algum tipo de auxílio. No entanto, por vezes, o trabalho também passa por evitar situações em que animais que estão em perfeitas condições sejam perturbados desnecessariamente.
Quando uma pessoa contacta um centro e diz que gostaria que alguma entidade responsável fosse recolher uma cria de uma ave, como por exemplo uma coruja, um mocho ou até andorinhas, porque se sente incomodada com os ruídos ou outras situações relacionadas com a presença de ninhos em habitações, é importante explicar que não se deve perturbar a reprodução dos animais. Eventuais intervenções, apenas devem ser feitas quando já não houver crias e com as devidas autorizações do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
No caso do CERVAS, tenta-se sempre minimizar as intervenções e pedir o máximo de compreensão às pessoas que têm a ‘sorte’ de ter em casa ninhos ‘indesejados’, como, por vezes, tem ocorrido, em algumas aldeias do concelho de Gouveia, com a coruja-das-torres. No entanto, tentando cumprir objectivos científicos, no âmbito do Projecto BARN, e de Educação Ambiental, foram realizadas algumas acções com a população local para que compreendam melhor e respeitem a espécie, apoiando assim a sua conservação.
Recentemente, em Vila Nova de Tazem, um particular que tinha acabado de adquirir uma casa contactou o SEPNA/GNR de Gouveia porque queria que as corujas-das-torres deixassem de ser seus “inquilinos sem pagar renda”. O CERVAS foi informado da situação no sentido de receber a cria no centro e proceder, nas suas instalações, à sua recuperação, o que seria um processo semelhante a tantos outros relacionados com ingressos de crias de rapinas nocturnas.
No entanto, sabendo que os progenitores farão sempre um melhor trabalho do que os técnicos do CERVAS – por mais que estes se esforcem – ao nível da alimentação, ensinamento de técnicas de caça, comportamentos anti-predação, entre outros aspectos da aprendizagem e socialização das crias de corujas-das-torres, o que foi proposto às autoridades e aos particulares foi um procedimento diferente do habitual, mas mais eficaz. O CERVAS faria o mesmo que a todas as crias que ingressam no centro – ou seja: exame físico, recolha de amostras biológicas, biometrias e, finalmente, a marcação individual (fotos) -, mas sem a retirar do ninho, à semelhança do que é feito nas caixas-ninho que estão activas. Apenas se pediu um esforço adicional aos habitantes da casa, no sentido de terem a paciência necessária para tolerarem os ruídos das crias, normais nesta altura do ano, durante mais algumas semanas.
Quando a época de reprodução terminar, o sótão onde está o ninho será novamente avaliado, para se ponderar as diferentes possibilidades, convenientes a ambas as partes, e que podem passar pelo impedimento da entrada das corujas e, eventualmente, caso isso seja tecnicamente possível e desejável, a colocação de alguma estrutura que permita a sua reprodução noutro local, nos próximos anos, tal como já ocorreu, em Gouveia, noutras situações semelhantes.
Caso tenha informações relacionadas com corujas-das-torres e outras aves de rapina nocturnas na região centro e interior Norte do país, poderá entrar em contacto com o CERVAS através de cervas.pnse@gmail.com