Fisiologia e Anatomia: As Penas

Sempre que pensamos em aves, inevitavelmente, associamos estas ao voo. O que não é de estranhar, dada a extraordinária capacidade que é o feito de voar. Ninguém como as aves o executa com tal perfeição e elegância. Na realidade, com muito poucas excepções, podemos afirmar que voar é um assunto em que não há espaço para a concorrência. Não que o ser humano não tenha tentado, construindo toda uma parafernália de acessórios para tornar o voo possível, mas porque voar exige uma série de requisitos que não possuímos, um deles, as penas.

coruja-do-nabal-3

Fazemo-nos transportar pelo ar, é um facto. Mas fazemos batota… voar está para nós como a astrologia para as aves! No entanto, no voo, as penas não desempenham senão uma parte importante de todo um complexo processo. Macias, frágeis e, ao mesmo tempo, muito resistentes, as penas evoluíram de tal forma que, sem elas, pura e simplesmente, uma ave não poderia não só voar, como dificilmente sobreviveria.

Com uma distribuição mundial ampla, mais de 300 espécies de aves visitam regiões situadas acima do Círculo Polar Árctico. Nessas situações, onde são confrontadas com temperaturas negativas extremas, a capacidade de isolamento das penas é um factor essencial à sobrevivência e a sua importância, no abrandamento das perdas de calor, é uma característica que permite às aves manterem uma temperatura corporal que, de outra forma, seria impossível. Por outro lado, estas mesmas penas possibilitam que, no caso inverso, em situações de temperaturas elevadas, fiquem a descoberto pequenas áreas da pele da ave que por convecção (movimento do ar) podem, assim, arrefecer.

tyto-alba6

Estas penas – um verdadeiro casaco de penas moderno (ou será o contrário, mas o sistema é exactamente o mesmo) – são denominadas penas de aquecimento e por serem tão importantes existem em grande número nas aves, principalmente nos juvenis. Elas constituem, de facto, a maioria das penas que uma ave possui. Juntamente com as exteriores, impermeáveis, formam um conjunto de tal forma eficiente que, em algumas aves, a diferença de temperatura entre este ‘dentro e fora’ das penas pode chegar aos 70°C.

penas
Mocho-galego – Esta capacidade de inflar as penas permite às aves uma melhor regulação da temperatura corporal. Na fotografia, estão bem evidentes as penas de aquecimento. Estas penas existem em grande número nas crias, que, desta forma, quando no ninho, se encontram protegidas da chuva. Neste caso, as penas de aquecimento (não resistentes à agua) são essenciais na diminuição das perdas de calor.

As aves possuem então esta capacidade de reter o ar entre as penas, criando uma camada (bolsas de ar quente e seco) que funciona como um escudo (de ar estático) e lhes permite manter o frio do lado de fora ou, por outro lado, no caso de necessitarem de arrefecer, inflar as penas e deixar o ar circular por determinadas partes do corpo.

A título de curiosidade, o número total de penas de uma ave pode atingir as 3000 num passeriforme, mas pode, no caso de um ganso, chegar às 25000. Frio? Não nos parece que as aves saibam o que isso é.