«O projecto TytoTagus teve a sua origem em estudos realizados na Ponta da Erva (Estuário do Tejo), que sugeriam a grande importância daquela área como uma zona de alimentação para juvenis de Coruja-das-torres (Tyto alba) em dispersão. Embora os números obtidos em transectos variem anualmente, a abundância de corujas pode atingir um máximo de 5 aves/km (até mais de 15 aves/km em algumas parcelas). Estes valores de abundância são únicos na Europa e, possivelmente, no mundo, estando provavelmente associados às características de habitat e à localização da área: uma paisagem agrícola aberta, com uma extensa rede de valas localizada no Estuário do Tejo e em algumas dos seus afluentes.
Apesar de a Coruja-das-torres ser conhecida por dispersar em direcções aleatórias, vários autores referem a tendência dos juvenis em dispersarem ao longo dos cursos de água, no sentido de obterem áreas de caça mais favoráveis, dado que a vegetação ripícola assegura melhores condições de micro-habitat para as presas (principalmente micromamíferos). A localização da área de estudo na vizinhança de um estuário pode justificar a ocorrência destas aves, se se confirmar a hipótese de que o rio Tejo e seus afluentes podem funcionar como corredores ecológicos para os juvenis em dispersão. »
Principais conclusões do projecto:
– Provavelmente as corujas estão a dispersar ao longo de áreas de caça favoráveis (lezíria), abrigando-se em áreas florestais adjacentes;
– c. de 70% das corujas seguidas dispersaram em aproximação ao Estuário;
– as corujas em dispersão usam quase exclusivamente árvores como poiso (montados, pinhais e eucaliptos junto a estradas); estas áreas são contíguas à lezíria.
Padrão geral de dispersão:
– Sucessão de paragens e fases errantes; a duração das paragens é muito variável (1 a 166 dias);
– as corujas deslocam-se regularmente até c. de 2km do poiso diurno para caçar;
– as corujas podem deslocar-se ao Estuário para caçar e regressar à área de origem em algumas horas (mais de 30km);
– as corujas em dispersão com poisos próximos do Estuário podem voar regularmente mais de 10km para caçar no Estuário;
– as corujas em emancipação no Estuário usam árvores, postes e pivôs como poisos diurnos. (ROQUE, Inês. MARQUES, Ana. GODINHO, Carlos. PEREIRA, Pedro. “O Projecto Tyto Tagus, Dispersão pós-natal de coruja-das-torres no Vale do Tejo”.).
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O Projecto TytoTagus: