Durante o ciclo anual, para as aves de rapina nocturnas, assim como para as restantes espécies, a época de reprodução afigura-se como a mais exigente e importante. O dispêndio energético levado a cabo pelos progenitores, para criarem os seus descendentes e, assim, transmitirem os seus genes à geração seguinte, é muito significativo.
A maioria das espécies de rapinas nocturnas é monogâmica. Em algumas espécies a ligação entre o casal dura apenas uma época de reprodução, enquanto noutras espécies, como a coruja-do-mato (Strix aluco), essa ligação é para a vida e o casal mantém-se junto durante todo o ano.

As rapinas nocturnas são aves fortemente territoriais, defendem um território quer contra membros da mesma espécie quer contra outras espécies que possam competir pelos mesmos recursos. O território pode ser mantido durante todo o ano, no caso de espécies residentes, como o bufo-real (Bubo bubo) e a coruja-do-mato (Strix aluco), ou em espécies que apresentem um comportamento nómada, como a coruja-do-nabal (Asio flammeus), conservado apenas durante a época de reprodução.
Cerca de 69% dos mochos, corujas e bufos são efectivamente nocturnos, 3% diurnos e 22% parcialmente diurnos ou crepusculares (os restantes 6% correspondem a espécies muito pouco estudadas, cujos hábitos não estão ainda totalmente determinados). As espécies de hábitos diurnos ou crepusculares podem efectuar exibições visuais na defesa do seu território, como voos acrobáticos, enquanto as espécies nocturnas, a grande maioria, se socorrem em especial do som, tendo os cantos e chamamentos um papel preponderante, tanto na marcação territorial como na comunicação entre os membros do casal, ocorrendo frequentemente duetos entre macho e fêmea.
A defesa do território, e em particular do ninho, é efectuada de forma agressiva. Espécies de tamanhos médio e grande podem mesmo chegar a atacar pessoas, que se aproximem do ninho ou dos juvenis recém-saídos deste, com bastante ferocidade. O rosto e os olhos, partes sensíveis, são as zonas preferenciais para as investidas das aves.
As rapinas nocturnas tendem a ocupar os mesmos territórios de nidificação em anos consecutivos. Estas aves não constroem ninho, o que fazem é ocupar locais adequados para a nidificação, como cavidades em troncos de árvores e escarpas rochosas ou antigos ninhos de outras espécies (e.g. de rapinas diurnas, corvídeos). Podem ainda utilizar uma grande variedade de outros locais, como, por exemplo, celeiros e torres de igreja ou outras construções humanas. As espécies associadas a terreno aberto tendem a nidificar no solo ou na vegetação rasteira, como a coruja-do-nabal (Asio flammeus) ou a coruja-das-neves (Bubo scandiacus). Há ainda espécies ditas “escavadoras”, como a coruja-buraqueira (Athene cunicularia), que ocupam tocas de roedores ou de outros mamíferos ou, se o solo assim o permitir, escavam os seus próprios abrigos, nidificando nos mesmos.

Tipicamente, os ovos das rapinas nocturnas são arredondados, apenas ligeiramente elípticos, e de coloração branca ou esbranquiçada. A postura pode variar entre apenas 1 ou 2 ovos e 14 ovos, sendo, em média, de 3-4 ovos. A postura varia de espécie para espécie e, mesmo para a mesma espécie, de ano para ano (dependendo de alguns factores, como disponibilidade de presas).

Normalmente, a incubação, realizada, na maioria dos casos, pela fêmea, inicia-se após a postura do primeiro ovo e dura, para a maioria das espécies, em média, cerca de um mês. Durante este período, a fêmea raramente deixa os ovos sem vigilância, sendo o macho responsável por caçar e providenciar alimento à fêmea. O cuidado tido na escolha dos locais de nidificação e, ao mesmo tempo, a forma agressiva com que é feita a defesa do ninho contribuirá possivelmente para que os ovos apresentem tão pouca camuflagem.
A eclosão dos ovos é assíncrona, visto que a incubação se inicia comummente após a postura do primeiro ovo, e tal implica que no ninho as crias apresentem tamanhos distintos. As crias mais velhas e fortes, muitas vezes, em especial nos períodos de maior escassez de presas, conseguem a maior parte do alimento que os progenitores trazem para o ninho. Tal implica que seja raro a sobrevivência de todas as crias, excepto em anos em que as presas sejam abundantes. Nas épocas em que as presas escasseiam, as crias mais pequenas e mais frágeis acabam por morrer à fome ou são mesmo mortas pelas crias mais velhas. Esta estratégia reprodutiva, embora possa parecer cruel, maximiza as probabilidades de sucesso em anos de abundância de presas e minimiza o risco de insucesso total em anos em que o alimento seja parco.

Após a eclosão dos ovos, as crias, que são nidícolas, apresentam os olhos e os ouvidos fechados e são incapazes de regularem a sua temperatura corporal, dependendo totalmente dos adultos. O macho pode chegar a levar comida para o ninho até 10 vezes por dia. As presas de maiores dimensões são desfeitas em pequenos pedaços e, assim, dadas às crias pelos adultos (ambos cuidam das crias). Presas mais pequenas, à medida que as crias se tornam mais velhas, são ingeridas inteiras. As crias começam a produzir egagrópilas (ou regurgitações) a partir do momento em que ingerem presas inteiras ou partes de presas que contenham porções não digeríveis, como ossos e pêlos.

Depois da primeira plumagem, que é fina, as crias adquirem uma segunda plumagem (designada mesóptilo), sendo esta substituída posteriormente, quando estas já são designadas voadoras, pela plumagem de juvenil, que é mantida até à plumagem de adulto. É ainda de referir que normalmente há poucas, ou mesmo nenhumas, diferenças entre a plumagem de juvenil e a de adulto.
Nas rapinas nocturnas, a maturidade sexual pode ser atingida, para algumas espécies, com cerca de um ano de idade, enquanto noutras, em particular de tamanho grande, tal ocorre, muito mais tardiamente, entre os dois e os quatro anos de idade.
Referências bibliográficas
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