Fisiologia e Anatomia: Regurgitação e Egagrópilas

Por não poderem mastigar o seu alimento, as aves de rapina nocturnas ingerem as suas presas inteiras, ou em partes, fazendo-as chegar de imediato ao estômago. Cerca de 10h após a ingestão, as partes não digeridas (ex: pêlo, ossos, dentes e penas) são regurgitadas sob a forma de uma massa ovóide. A esta regurgitação dá-se o nome de egagrópila ou plumada. A produção da egagrópila bloqueia parcialmente o sistema digestivo e a ave não ingere novas presas, até que a egagrópila seja totalmente expulsa, após o sistema digestivo retirar todos os nutrientes do alimento.

3-3
Mocho-galego.

Quando uma ave de rapina nocturna está prestes a produzir uma egagrópila, adopta uma expressão de dor – os olhos fecham-se, o disco facial empluma e estreita-se e a ave mostra-se relutante em voar. No momento da expulsão, o pescoço é esticado para cima e para diante e o bico abre-se, saindo a egagrópila, que, quando expulsa, é húmida e coberta com muco. Todo este processo ocorre muitas vezes nos locais de pouso da espécie, onde durante o dia os indivíduos repousam e no final da digestão expelem as regurgitações que aí se acumulam, por vezes, em grande quantidade.

As egagrópilas das aves de rapina nocturnas diferem das de rapina diurnas, uma vez que contêm uma grande proporção de resíduos de comida, isto, porque os sucos digestivos são menos ácidos que nas outras rapinas. O principal material que as constitui são os ossos, principalmente os de maiores dimensões, já que os de pequenas dimensões podem ser por vezes digeridos, sendo o resto do material constituído por pêlo e penas. Na sua constituição podem também estar incluídos restos de alimentos provenientes das suas presas, que também não são digeríveis e acabam por constituir parte do material de uma egagrópila.

As egagrópilas variam no tamanho, forma e estrutura, em função do tipo de alimentação da ave e da própria espécie. Algumas das características são as seguintes:

Coruja-das-torres (Tyto alba)
Tamanho (comprimento x largura): 30-70 x 18-26 mm;
Descrição e onde encontrar: Geralmente muito escuras e compactas, brilhantes quando frescas, macias ao toque no exterior. Encontram-se e acumulam-se nos edifícios usados para pouso ou para nidificação.

Coruja-do-mato (Strix aluco)
Tamanho (comprimento x largura): 30-70 x 18-26 mm;
Descrição e onde encontrar: cinzentas e com pêlo quando a dieta é composta por pequenos mamíferos (pode-se confundir com dejecto de raposa). São facilmente encontradas no local do ninho ou em pousos.

Mocho-galego (Athene noctua)
Tamanho (comprimento x largura): 20-40 x 10-20 mm;
Descrição e onde encontrar: Cinzentas pálidas quando frescas, não muito sólidas, muitas vezes com presença de restos de quitina proveniente dos insectos ingeridos. Encontrados perto ou nos ninhos ou debaixo de pousos em árvores.

Mocho-d’orelhas (Otus scops)
Tamanho (comprimento x largura): 15-25 x 10-20 mm;
Descrição e onde encontrar: Cinzentas. Geralmente pouco compactas devido a  serem constituídas maioritariamente por insectos. Encontradas perto dos ninhos ou perto dos sítios de repouso.

Bufo-real (Bubo bubo)
Tamanho (comprimento x largura): 20-75 x 14-32 mm;
Descrição e onde encontrar: Cinzentas pálidas, com superfície rugosa e dura, com presença de mais pêlo por digerir do que as de coruja-do-mato. Debaixo do ninho ou pousos, principalmente no Inverno.

Bufo-pequeno (Asio otus)
Tamanho (comprimento x largura): 35-70 x 18-26 mm;
Descrição e onde encontrar: Cinzentas-escuras, sem brilho quando frescas, comparado com as de coruja-das-torres. Mais tarde pálidas. Encontradas perto dos ninhos ou perto dos sítios de pouso no Inverno.

Coruja-do-nabal (Asio flammeus)
Tamanho (comprimento x largura):30-75 x 17-30 mm;
Descrição e onde encontrar: Cinzentas, podendo variar entre o claro e o escuro. Arredondadas nas extremidades. Encontradas perto dos locais de repouso.

As egagrópilas são um elemento importante para o estudo das aves que as produzem, uma vez que através da sua análise podemos muitas vezes reconstruir esqueletos inteiros das suas presas. Para além de saber o tipo de alimentação de cada espécie,  também é possível saber a quantidade de alimento ingerido, assim como ter uma ideia das populações de micromamíferos que habitam nas zonas de caça destas espécies. Para este tipo de estudo são analisados crânios, mandíbulas e maxilares que permitem obter este tipo de informação, possibilitando tirar diversas conclusões acerca da sua ecologia.