A coruja-do-mato (Strix aluco) é uma ave de rapina com actividade crepuscular e nocturna, de dimensão média e aspecto compacto. Possui asas relativamente curtas, largas e arredondadas; quando em voo, esta característica ajuda a distingui-la do bufo-pequeno e da coruja-do-nabal que exibem asas mais compridas e estreitas. Por outro lado é possível separá-la da coruja-das-torres pela coloração geral acastanhada que apresenta. Tem uma cabeça grande e arredondada, sem penachos. A sua coloração, muito críptica, varia entre o castanho-arruivado e o castanho-acinzentado e a plumagem é totalmente malhada, com finas riscas e manchas escuras. O disco facial é bastante marcado e homogéneo e a cauda barrada de forma fina e indistinta. Possui olhos e garras escuros e bico amarelado. Nesta espécie ocorre dimorfismo sexual, sendo a fêmea maior e mais pesada que o macho.
Em Portugal Continental ocorre a subespécie S. a. sylvatica.
Esta espécie distribui-se pelo Paleárctico Ocidental e Oriental (centro-sul da Ásia); ocorre por quase toda a Europa, encontrando-se, no entanto, ausente na Irlanda, extremo norte da Escócia, norte da Escandinávia e na Rússia, Islândia e na quase totalidade das ilhas mediterrânicas; presente no Norte de África, em Marrocos, na Argélia e na Tunísia.
As corujas-do-mato são aves sedentárias e relativamente numerosas em Portugal Continental, distribuindo-se descontinuamente em toda a Península Ibérica, devido à fragmentação dos bosques, estando ausentes nas ilhas. Embora esta espécie se encontre presente de norte a sul, tratando-se de uma das mais comuns aves de rapina nocturnas do nosso país, a sua densidade varia grandemente de umas áreas para outras, sendo referido que é menos frequente na metade norte de Portugal.
Espécie marcadamente florestal, demonstra preferência por bosques de caducifólias ou mistos, embora também surja em povoamentos de coníferas e zonas agrícolas. Ocorre ainda em jardins e parques urbanos, sendo possível observá-la, por exemplo, no centro da cidade de Évora. É mais rara em zonas de grande altitude, áreas sem árvores ou densamente povoadas.
A coruja-do-mato apresenta uma dieta muito variada; trata-se de um predador generalista. Alimenta-se de mamíferos, em particular roedores, pequenas aves, anfíbios, répteis, anelídeos (ex: minhocas) e insectos que captura no solo, após detecção, a partir de um poiso. Realiza um tipo de voo com batimentos relativamente rápidos e deslizes longos.
Esta espécie é vocalmente muito activa, podendo ouvir-se o seu canto durante todo o ciclo anual, embora no final do Verão tal seja menos frequente. O seu canto mais característico, composto por duas notas (uma simples, seguida de uma outra em trémulo), é, talvez, a melhor forma de localizar e identificar esta coruja.
As corujas-do-mato são habitualmente monógamas, mantendo-se os casais juntos durante toda a vida; trata-se de uma espécie marcadamente territorial. Esta espécie nidifica em florestas, parques, terrenos agrícolas com árvores e prefere árvores velhas de folha caduca com buracos onde pode fazer o ninho, sendo possível encontrá-la na proximidade de zonas habitacionais. A coruja-do-mato pode também utilizar ninhos antigos de corvídeos e outras aves de rapina ou mesmo ninhos de esquilo (Sciurus sp.). A postura é de 2 a 5 ovos e ocorre entre Fevereiro e Junho; os ovos, de cor branca e formato arredondado, são postos com um intervalo de 48h. A incubação dura de 28 a 30 dias e é realizada pela fêmea que, neste período, é alimentada pelo macho. Com cerca de um mês (25 a 30 dias), as crias abandonam o ninho, sendo capazes de voar com 32-37 dias de idade. Os progenitores continuam a alimentar os juvenis, até cerca de 3 meses, depois de estes começarem a voar; entre Agosto e Novembro os juvenis dispersam em busca do seu próprio território, já não podendo permanecer no território dos progenitores. Atingem a maturidade sexual com 1 ano de idade.
A coruja-do-mato é capaz de exibir comportamentos agressivos, chegando mesmo a atacar possíveis intrusos, principalmente durante a época de reprodução, no período em que as crias saem do ninho, ainda sem saberem voar. É destemida na defesa do ninho e crias.
Estão referenciadas, para a coruja-do-mato, como causas de mortalidade, ligadas ao Homem, as colisões com veículos, comboios ou linhas de transporte de energia, assim como a entrada e consequente aprisionamento em edifícios e a caça ilegal. A fragmentação do habitat é uma das mais significativas ameaças a que esta espécie se encontra sujeita. As principais causas de ingresso destas aves nos centros de recuperação são o atropelamento e a queda do ninho de crias/juvenis. Quando se tratar de queda do ninho, sempre que possível, a ave deverá ser devolvida ao ninho ou colocada num local próximo, seguro, onde os progenitores a possam continuar a alimentar.
Aquando da dispersão dos juvenis, e dada a sua inexperiência, há uma grande susceptibilidade de estes sofrerem atropelamentos nas estradas, o que leva a uma elevada taxa de mortalidade destes indivíduos, durante o Verão.
Encontra-se referenciado que esta espécie aceita com facilidade caixas-ninho, quando a disponibilidade de árvores com cavidades para nidificação é reduzida; tal poderá ser tido em conta como uma medida interessante, para potenciar a nidificação da coruja-do-mato em determinadas áreas.
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Estatuto de conservação: Mundo (IUCN, 2016): LC (Pouco Preocupante); Europa (BirdLife International, 2004): Non-SPECE (Concentrada na Europa mas com estatuto de conservação favorável); Portugal (Cabral et al., 2005): LC (Pouco Preocupante);
Protecção legal: Convenção de Berna: Anexo II; Convenção de Washington (CITES): Anexo IIA;
Tipo de ocorrência em Portugal Continental: Residente (Res);
Distribuição: Comum;
Dados biométricos: Comprimento: 37 a 39 cm; Envergadura: 94 a 104 cm; Peso: 325-800g; Longevidade máxima conhecida na Natureza: 22 anos e 5 meses.
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