Bufo-pequeno

O bufo-pequeno (Asio otus) é uma rapina nocturna de tamanho médio. Apesar de ser um bufo, o seu tamanho é próximo do das corujas, como, por exemplo, a coruja-das-torres (Tyto alba) ou a coruja-do-nabal (Asio flammeus), sendo principais características a cabeça com disco facial completo, castanho-arruivado, olhos de cor laranja e tufos de penas vulgarmente chamados ‘orelhas’. As ‘orelhas’, característica bastante marcante, encontram-se normalmente visíveis, embora, quando em voo ou em repouso, possam tornar-se quase invisíveis. O dorso vai de castanho-acinzentado a avermelhado, manchado de castanho, e as partes inferiores são ocres, listradas de forma bastante uniforme. O bico e as unhas são escuros. Exibe asas longas e relativamente estreitas. Na face superior da asa, na base das primárias exteriores, é possível observar uma mancha amarelo-alaranjada, sendo a ponta das asas e a mancha carpal escuras; na face inferior, é notória a ‘vírgula’ escura na articulação da asa. Cauda finamente barrada. Ambos os sexos são idênticos, embora o macho seja, em média, menos pesado e mais pálido, com as partes inferiores menos intensamente listradas, exibindo ainda uma face mais pálida e de tonalidade menos alaranjada que a fêmea.

Em Portugal ocorre a subespécie nominal.

232

A nível mundial, esta ave de rapina da região holárctica tem uma área de distribuição que inclui grande parte da Europa, Ásia, Médio Oriente e América do Norte. O bufo-pequeno é uma das aves de rapina nocturnas, que ocorrem em Portugal, mais difíceis de observar. Este facto deve-se, por um lado, ao seu comportamento discreto, hábitos quase estritamente nocturnos e pouca actividade vocal, e por outro, também à sua distribuição que, apesar de alargada, uma vez que abrange a maior parte das regiões de Portugal Continental, ocorrendo de norte a sul, não é regular no nosso país e surge sempre em densidades baixas. A Estremadura é a região onde aparenta ser mais abundante. Nos Açores, ocorre em todos os grupos do arquipélago, embora não esteja confirmada a sua nidificação em todas as ilhas.

Trata-se de uma espécie residente que pode ocupar zonas arborizadas com clareiras e bosques abertos, especialmente na época de reprodução, podendo também ocorrer em terrenos agrícolas desarborizados, principalmente durante o Inverno, por vezes em pequenos grupos. No Continente, o seu habitat é constituído por pinhais, carvalhais, pequenos soutos, matas ribeirinhas e montados de azinho, com sobreiros e pinheiros, no sul. No arquipélago dos Açores, ocupa zonas de bosque ou floresta, em particular de coníferas. Algumas zonas onde esta espécie pode ser observada, em Portugal Continental, são o paul da Madriz, os estuários do Tejo e Sado ou alguns montados do interior do Alto Alentejo. Durante a passagem migratória outonal, pode ser avistada, por vezes, na zona do cabo de São Vicente, no Algarve.

wp_ao3

O bufo-pequeno tem uma dieta mais especializada que outras aves de rapina nocturnas, constituída principalmente por pequenos mamíferos (em particular roedores, com destaque para Microtus sp. e Apodemus sp., e insectívoros), mas que também pode incluir aves, principalmente durante a época de reprodução, morcegos, anfíbios, cobras e, ocasionalmente, invertebrados. Ao longo do ano, em algumas regiões, esta ave pode apresentar alterações significativas na sua dieta.

Esta espécie produz, em média, duas egagrópilas por dia, uma que é expelida durante o dia, no local de descanso, e outra durante o período de caça.

No nosso país, não é bem conhecido o período em que o canto é mais intenso; é, no entanto, durante o Inverno (Janeiro a Março) que as aves adultas são mais activas vocalmente. Esta espécie serve-se muitas vezes de antigos ninhos de corvídeos e de rapinas diurnas para nidificar. O bufo-pequeno pode ainda nidificar no solo. A postura é de 3-5 ovos e cada ovo é posto com um intervalo de 48h. A incubação, realizada pela fêmea, ocorre desde a postura do primeiro ovo, tendo a duração de 25 a 30 dias. As crias, desde muito pequenas, podem ser observadas fora do ninho, em ramos próximos do mesmo, até antes de saberem voar. Estas abandonam o ninho com cerca de 21 a 24 dias de idade. Os juvenis tornam-se independentes com cerca de 2 meses, atingindo a maturidade sexual com 1 ano de idade.

Embora, para o nosso país, não sejam totalmente conhecidas e determinadas as ameaças a que esta espécie se encontra sujeita, alguns dos principais factores de risco, para o bufo-pequeno, são a intensificação da agricultura, o uso de venenos e de agro-químicos, a colisão ou electrocussão com linhas aéreas de transporte de energia e a colisão com viaturas, assim como a competição com a coruja-do-mato (Strix aluco) e, provavelmente, o abate ilegal.

Acções de sensibilização e educação ambiental que versem sobre a temática da conservação das aves de rapina, dirigidas para um público-alvo que inclua caçadores, guardas e gestores de caça e florestais, assim como a adopção e correcta divulgação de boas práticas na exploração agrícola e florestal, conjugadas com a implementação de medidas de contenção da venda e uso de substâncias tóxicas para controlo de roedores são medidas de conservação capazes de ter um impacto positivo nesta espécie.

• • •

Estatuto de conservação: Mundo (IUCN, 2016): LC (Pouco Preocupante); Europa (BirdLife International, 2004): Non-SPEC (Não concentrada na Europa mas com estatuto de conservação favorável); Portugal (Cabral et al., 2005): Continente – DD (Informação Insuficiente); Açores – DD (Informação Insuficiente);

Protecção legal: Convenção de Berna: Anexo II; Convenção de Washington (CITES): Anexo IIA;

Tipo de ocorrência em Portugal Continental e Açores: Residente (Res);

Distribuição: Pouco comum;

Dados biométricos: Comprimento: 35 a 37 cm; Envergadura: 90 a 100 cm; Peso: 200-435g; Longevidade máxima conhecida na Natureza: 27 anos e 9 meses.

.


Bibliografia

Aves de Portugal. s/d. Bufo-pequeno (Asio otus). Disponível online: http://www.avesdeportugal.info/asiotu.html

BirdLife International. 2004. Birds in Europe: Population Estimates, Trends and Conservation Status. BirdLife Conservation Series nº 10. BirdLife International, Cambridge.

BTO. 2016. Long-eared Owl Asio otus (Linnaeus, 1758). Disponível online: http://app.bto.org/birdfacts/results/bob7670.htm

Cabral M. J. (coord.), Almeida J., Almeida P. R., Dellinger T., Ferrand de Almeida N., Oliveira M. E., Palmeirim J. M., Queiroz A. I., Rogado L. & Santos-Reis M. (eds.) 2005. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.

Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. Aves de Portugal: Ornitologia do Território Continental. Assírio & Alvim, Lisboa. ISBN: 978-972-37-1494-4

CERVAS. 2014. Espécie do mês de Maio: Bufo-pequeno. Disponível online: http://cervas-aldeia.blogspot.pt/2014/05/especie-do-mes-de-abril-bufo-pequeno.html

Cramp S. (ed.) 1985. Handbook of the Birds of Europe, the Middle East and North Africa, (Terns to Woodpeckers), Vol. IV. Oxford University Press, Oxford.

Equipa Atlas. 2008. Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (1999-2005). Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves,  Parque Natural da Madeira e Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Assírio & Alvim, Lisboa. ISBN: 978-972-37-1374-9, 978-972-775-198-3

IUCN. 2016. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2016-2. Disponível online: http://www.iucnredlist.org/

Lopes I. 2014. Bufo-pequeno Asio otus. Grupo de Trabalho sobre Aves Noturnas. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Disponível online: http://www.spea.pt/pt/participar/grupos-de-trabalho/aves-noturnas/documentos-download/

Mikkola H. 2013. Owls of the World. A Photographic Guide. Second Edition. Christopher Helm, London.

Svensson L., Mullarney K., Zetterström D. & Grant P. J.  2012. Guia de Aves – Guia de Campo das Aves de Portugal e da Europa. Assírio & Alvim, Porto.